sexta-feira, 3 de julho de 2020

O Sentido da Vida

Coronavírus: Lhamas produzem anticorpos e podem ser heroínas na ...

Qual é o sentido da vida? Essa pergunta não tem sentido nenhum, segundo a acepção do termo para expressar finalidade. Pela lógica envolvida em perguntas desse tipo, perguntar o sentido funciona só com algumas coisas, como vamos mostrar depois. Contudo, sentido significando finalidade para a vida  sempre levará a uma resposta fantasiosa.
 
Para ficar mais evidente essa distinção, troque a palavra sentido para finalidade da vida. Qual a finalidade da vida?
 
Pois bem, você decidiu encontrar uma resposta para o sentido da vida. Você já começou errado, então não pode ir muito longe, não é mesmo? Errado. Falando como humanidade, NÓS fomos longe na elaboração de resposta para essa pergunta, criando as mais variadas hipóteses. Absurdas? Não, isso não, porque nenhuma dessas histórias é absurda quando existe quantidade suficiente de pessoas para acreditar nelas. Toda essa criação não passou de uma historinha humana. Vamos aos exemplos.
 
Você deve se lembrar da resposta mais famosa, que se encaixa para várias religiões: a vida serve de teste, para saber se você é bom em adorar a Deus e bacana com as outras pessoas. Assim, lhe é permitido habitar um lugar legal, após os créditos finais (ou seja, existe uma vida além da vida, que é pura alegria, essa aqui não vale muito, porque é ruim e finita. A outra é infinita, tem coral de anjos de som ambiente e pizza de graça quando quiser. Apenas ature a vida terrena, vá na missa de domingo e devolva o troco certo).
 
Maluca essa explicação da finalidade da vida, não? Claro que não. Você pode ter se convencido numa boa. Mas se você é mais exigente, podemos colocar outros elementos na narrativa.

A vida existe para entreter Deus, como uma peça de teatro;  a vida é uma reunião de átomos destinada a retornar ao ponto inicial do Universo, porque desde a explosão, houve muita bagunça e Deus quer varrer tudo pra debaixo do tapete novamente, antes que sua mulher chegue e veja; ou ainda, a vida serve para deslocar matéria na crosta terrestre, como mãos trabalhadoras de Deus, para uma exposição de arte em que concorrem vários deuses. As teorias são muitas e para todos os gostos. Crie a sua também, que mais te conforte.

O que há em comum nestas histórias, ajuda a explicar por que não há sentido na pergunta que busca sentido na vida. Sempre tivemos que colocar a figura de Deus, ou de uma inteligência imanente nas explicações. Isso porque um sentido liga-se à finalidade, que é um ponto muito mais humano do que lógico.

Quando perguntamos em sentido para a vida, ultrapassamos a lógica que perguntas de razão e sentido para as coisas comportam. Perguntar qual o sentido de alguma coisa só faz sentido com coisas próximas, naturais, onde vemos causa e consequência aparentes, ou valoramos uma ação humana como via para atingir outro ponto. Em outras palavras, o sentido nas coisas mais simples é plausível, como um vaso que é largado no ar, e com certeza irá cair, fazendo algum barulho ao mesmo tempo em que é seguido pelo grito de sua mãe por ter quebrado seu vaso favorito. Em seguida, sua mãe lhe dará um tapa, que lhe marcará no corpo e na memória, com a finalidade de que você não jogue mais bola dentro de casa. Nessa situação, existe um encadeamento lógico por trás, bem como uma valoração de causa e consequência em todos esses eventos.


Quanto à vida, não faz sentido procurar por um sentido. Todas as vezes que cogitarmos um sentido estaremos fantasiando. No sentido religioso, é como se por trás de tudo o que enxergamos existisse uma grande conspiração, explicando a matéria, os animais,  a ação humana e tudo o mais, conduzindo tudo isso para um ponto específico e previsto. É como um grão de areia que se move no deserto. Passado alguns anos, caso ele viesse a se juntar num grande furacão, um observador que acredita num sentido para as coisas diria que o sentido daquele grão de areia era se tornar furacão. Para outro observador, tudo não passou de eventos aleatórios, que conduziram aquele grão em específico para o furacão. Em verdade, todos esses eventos foram valorados a gosto de quem viu. Quantos outros grãos não tiveram o mesmo destino? Este observador diria que o sentido do grão de areia não é se tornar furacão, mas que ele apenas existe e resultou em outro fenômeno. A vida e tudo o que existe é uma grande e constante transformação de coisas em outras sem sentido, no significado que demos ao termo aqui, apenas pela sucessão de causas. A matéria, nesse meio tempo, ocupou-se de reunir formas cada vez mais elaboradas e complexas, sem sentido, mas com regras observadas pela física.

O sentido é valorado pelo observador. O sentido só existe para seres humanos e suas ações. Na forma como as religiões buscam sentido na vida, todas as explicações contam historinhas.

Vendo por um ponto de vista de sentido mais natural, também poderíamos criar histórias, mas sem tanto esplendor e conforto quanto a versão religiosa. Por exemplo, o sentido da vida é que toda a matéria do Universo, uma vez espalhada por uma grande explosão, volte a seu ponto inicial pelas forças gravitacionais. Até que exploda novamente, e crie tudo outra vez. Nestes termo, a explicação é revestida de elementos científicos, mas não deixa de contar uma história, de tudo o que acontece ao longo de uma linha temporal. O sentido aqui, não é tão humano, não tem o homem e seu ambiente social como centro da explicação. Por isso ela é mais chatinha e desalentadora.

Qual o sentido do grão de areia? Ele pode ter várias propriedades e características, mas não uma finalidade. Viu como não faz sentido perguntar isso? O grão de areia apenas existe, sem qualquer sentido ou evento final predestinado.

Pois é, para o homem, diferente dos animais, não basta apenas aceitar a realidade, e viver enquanto durar esse lapso de vida, sem perguntas. Queremos explicar as coisas em termos de causa e consequência. No entanto, quando expandimos essa lógica para a vida, caímos na ideia de existir um fim maior para ela. Desse modo, criamos teorias, sem respaldo nenhum com a realidade, para contornar o medo da morte e superar desafios diários. Dizem eles: após uma vida de dor e o sofrimento, retornaremos para a verdadeira vida, a vida eterna. Mas só por que inventamos essa teoria de vida eterna, não significa que a realidade se comportará dessa maneira. O mundo não é como imaginamos, ele apenas é, independente da nossa vontade. E assim continuará sendo para sempre. A menos que uma lhama colorida desça dos céus tocando trombetas dizendo que a vida não passou de uma grande pegadinha.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

CONFIRMADO: Chupa Cu de Goianinha não existe


O mundo recebe esta notícia com tristeza. Chupa cus não existem, era tudo mentira (mas o medo que sentimos foi real).

A lenda surgiu na internet por causa da foto acima. Supostamente, essa criatura estava matando cabras, bois e vacas nos pastos da cidade de Goianinha. Diferente de tudo o que já se viu, ele tinha uma forma humanoide e usava sua boca sugadora para chupar entranhas. Era roliço e branco como uma lombriga,  a qual era, possivelmente, uma parente na escala evolutiva. O chupa cu é o que acontece quando suas lombrigas ganham pernas e crescem fora de controle (será que esse é o estágio adulto avançado das lombrigas?).

Imagine o susto dos fazendeiros se vissem o corpo de suas cabras e vacas mortos pelo Chupa cu. Isso faz dessa criatura, na minha opinião, o maior vilão da cultura popular brasileira e mundial. Melhor que o curupira, o lobisomem e o pé grande. Eis uma lenda incrível e genuinamente nacional. A forma cruel como ele fazia suas vítimas gela o coração de qualquer homem (ou não). Pense como deve ser horrível morrer com o cu chupado (ou não).

O que você faria se acordasse no meio da noite, numa casa de sítio de madeira, cheia de frestas e portas sem trancas, ouvindo barulhos do lado de fora e seus cachorros latindo?

É. Mas Chupa cus não existem. Não é viável para a natureza criar um animal de hábitos parasitários maior que seu hospedeiro. A energia necessária para manter seu corpo seria muito maior do que a utilizada para caça. Por isso que em geral, parasitas são pequenos, mas numerosos, preferindo se alojar em animais maiores. Provada a não existência do Chupa cu. Será mesmo?

Então... esse argumento é válido, entretanto, imperfeito. Só porque nunca vimos parasitas gigantes, não significa que a natureza não tenha aberto uma exceção na regra, da mesma forma como criou um mamífero que bota ovo. Então ficamos na mesma, Chupa cus podem existir, apesar da lógica pender para o outro lado. Será que, por conta dessa mesma dificuldade biológica é que os Chupa cus são tão raros? E será essa forma de vida está levando-os à extinção? Não sei. Vou mudar o título desse artigo para Confirmado: Chupa Cus certamente não existem.

Mas porque essa é uma notícia triste? Tá certo que por um lado é bom que criaturas que suguem seu órgão anal não existam, mas quero chegar num ponto: essa lenda serve para provar que o mundo tem se tornado um lugar chato e previsível. "Todo mundo explica tudo, como a luz acende, como um avião pode voar", disse Raul. Todos viram tudo o que tinha para ser visto, e não há mais nada o que descobrir. O mundo perdeu grande parte de seu encanto. O desconhecido dos mares antes de 1500 e o abismo do mundo não existem mais. Florestas escuras não são mais o lar de anões e trolls. As árvores não tem ouvidos, nem se comunicam pelo vento. Os deuses não existem, e Anúbis não vai te guiar para a vida eterna.

O planeta deixou de instigar a imaginação humana? Será que precisamos procurar o mistério em outros lugares além da Terra? Acho que a humanidade perdeu muito superando sua fase criança quando deixou de inventar histórias. Precisamos de mistérios, continuar contando histórias, para o bem de nossa curiosidade e imaginação. Amamos e precisamos imaginar.

Qual a razão da vida sem Deus e sem vida após a morte?

Aventuras na História · A misteriosa vida após a morte no Egito Antigo

Essa pergunta, bem como a ideia de escrever aqui, surgiu com uma publicação de um grupo no Facebook que coloca ateus e crentes fervorosos para discutirem. Participo desse grupo apenas pelos memes, já que redes sociais não existem para qualquer discussão séria, e também para rir de pessoas revoltadas com opiniões diferentes das suas. As opiniões que tenho, já foram há muito construídas, quis escrever aqui e agora.

Comecemos com: existe vida após a morte? Todos nós já fizemos ou iremos fazer essa pergunta algum dia. Para os crentes mais exaltados lá do grupo, a resposta parece pronta e óbvia: mas é claro que existe vida após a morte. A fé dessas pessoas é tanta, que questionar o contrário nunca passou por suas cabeças. Mas não, não temos certeza alguma da resposta. O que acontece é que crescemos com essa ideia tão culturalmente enraizada nas nossas cabeças, que não lembramos nem o dia que ela foi ensinada. No meu lar católico foi assim, desde pequeno fui ensinado a acreditar na vida após a morte e em Deus. Mas aquilo que era óbvio para mim, não era na vivência de outras famílias.

Certa vez, perguntei para minha priminha de 12 anos se ela já tinha se perguntado o que acontece após a morte. Ela não sabia me responder, mas não como eu não saberia responder, ela não tinha nem teorias a respeito disso. Isso se deve ao fato dela não ter crescido num lar tão religioso quanto o meu. Ela não fazia questão nem de fazer perguntas desse tipo, ou se Deus existia ou não. Tá certo que ela era muito pequena para pensar na morte e em Deus, mas todos um dia pensarão, só que de formas totalmente diferentes, dependendo da sua bagagem cultural e aprendizado.

Se não existir vida após a morte, ou mesmo Deus, qual sentido tem a vida? Essa é uma pergunta falaciosa, e que te induz para o próprio pensamento do autor dela. A resposta que um crente espera de você está contida no enunciado dela mesma, porque ele já subentende a razão da vida nessas duas coisas: Deus e vida no paraíso.

Você acha que sua vida atual é baseada nestas duas crenças? Sinto muito, mas provavelmente sua vida não está tão boa assim. Ao pensar assim, você acaba deixando de aproveitar o que mais importa, o presente, ao mesmo tempo em que adota uma postura negacionista e acovardada diante dos desafios da realidade. Isso porque, para pessoas assim, tudo parece ser uma grande espera até o dia da grande revelação da vida futura, com um Deus que não temos certeza alguma se é real, ou apenas imaginado.

Nietzsche já havia se atentado para os perigos que a religião pode trazer para nosso modo de viver. Por isso, foi tão crítico a ela e sua moralidade ao guiar a ação do homem.

Ficamos aqui com a seguinte resposta, uma dentre várias que podem surgir, não necessariamente a melhor ou a correta, só para não deixar o título em suspenso: a razão da vida é ela mesma. E a maior prova de que a razão da vida é ela mesmo é que, se alguém tentar tirar ela de você, você vai fazer o possível e o impossível para salvá-la. Se fosse o contrário, o mais importante da vida é a vida após a morte, apenas aceitaríamos morrer, ou pior, adoraríamos morrer, visto que a vida eterna é muito melhor que essa.

Em suma, viva o presente e encare os desafios da vida com coragem, sabendo que ela é única e imprescindível, independente da existência de Deus, vivendo apenas com a certeza da existência do momento presente, esse inquestionável e poderoso.